Fotografia

Acrotérios, pinhais, pináculos, rendilhados, estampas, figuras antropomórficas e zoomórficas, cimalhas, platibandas, balaústres, porões altos, portadas e janelões bordados em ferro conformam a arquitetura de imponentes casarões, insinuam as posses de seus proprietários, demarcam hierarquias sociais e revelam o anseio das famílias que outrora capitanearam a cultura do cacau no sul da Bahia por um ethos europeu materializado nos trópicos. 

Amplos boulevards cortados por longas travessas criam uma grelha de cadenciada regularidade e remetem ao desejo por uma racionalidade que subjugue a natureza, que regule a sociedade e que se imponha sobre o caos. Um sol escaldante, de um brilho bastante familiar aos que conhecem os grandes sertões brasileiros, funda nos objetos um jogo de luzes e sombras de duro contraste que cessa apenas quando o dia se põe por detrás do rio Jequitinhonha. 

O vasto manto negro que então cobre a cidade é cortado apenas por linhas de tênue luz conformadas pelos postes ao longo de suas ruas. Seis vezes por minuto, essa grelha prateada – que parece terminar no infinito – é então visitada pelo facho intermitente que se origina no antigo farol costeiro e que não nos deixa esquecer o grande “mar moreno” para o qual a cidade dá as costas.

Márcia Moreira Tofani